Você já parou pra pensar que um Tech Lead talvez seja o “ornitorrinco” da tecnologia? Calma, eu explico.
O ornitorrinco nada, mas não é o melhor nadador. Tem bico de pato, mas não é um pato. Põe ovo, mas é mamífero. No fundo, ele sabe fazer de tudo um pouco — e é justamente isso que torna ele tão especial. Ser Tech Lead é isso: não é ser o mais rápido do time, nem o mais especialista. É ser versátil.
Hoje o mercado espera um perfil que vá além do técnico. O Tech Lead precisa saber navegar entre código, estratégia, pessoas e negócio. A seguir, compartilho as 5 dicas mais importantes que vejo na prática.
1. Desenvolver habilidades de comunicação com diferentes personas
Saber explicar a mesma solução para públicos diferentes é essencial. O time técnico quer entender o como. O time de produto quer saber o porquê. A liderança quer ouvir impacto, risco e valor.
Mas mais do que adaptar a linguagem, é sobre entender o que importa para cada um. Um Tech Lead que sabe se comunicar evita ruído, antecipa conflitos e cria alinhamento. Ele não vende ideia no grito nem na complexidade — vende com clareza, contexto e propósito.
E sim, isso envolve ouvir bem antes de falar, ajustar o nível de profundidade, usar bons exemplos, e saber quando um gráfico vale mais que três parágrafos. Comunicação é ponte — e Tech Lead precisa construir muitas delas.
2. Capacidade de entender a necessidade do negócio e saber priorizar
Você não lidera só tecnologia — você lidera decisões que impactam o negócio. E pra isso, precisa entender qual problema realmente precisa ser resolvido agora.
Nem tudo que é tecnicamente interessante ou “arquiteturalmente bonito” é prioridade. Às vezes, o simples resolve. Às vezes, o “tech debt X” precisa esperar pois tem algo maior que precisa ser feito. O papel do Tech Lead é saber diferenciar urgência de vaidade técnica, e focar no que gera valor de verdade.
Isso envolve conversar com o time de produto, entender metas, olhar métricas e — principalmente — participar na tomada de decisões difíceis com clareza e justificativa. Saber dizer “não agora” não é ser contra, é proteger foco. E quem sabe priorizar bem, faz o time andar na direção certa.
3. Direcionar, capacitar e garantir a evolução do time (Delegar)
Um dos maiores erros de quem assume a liderança técnica é achar que precisa resolver tudo. Não precisa. E nem deve.
Ser Tech Lead é entender que você não escala sozinho. Seu papel é criar um ambiente onde o time evolui, entrega com autonomia e confia na direção. Isso significa remover bloqueios, orientar com clareza e garantir que cada pessoa do time tenha espaço pra crescer — técnica e profissionalmente.
Delegar não é largar. É entregar com contexto, acompanhar de forma saudável e ajustar quando necessário. É confiar, mas também ter responsabilidade sobre o resultado. E quanto mais o time evolui, mais você pode focar no que só você pode fazer: pensar no todo.
Liderança técnica não é centralizar. É multiplicar.
4. Saber planejar estrategicamente e estruturar planos claros
Ideia boa sem plano claro vira dívida ou frustração.
O Tech Lead precisa ser capaz de transformar uma visão técnica em um plano de ação viável, com entregáveis definidos, riscos mapeados e uma cadência que o time consiga acompanhar. Não é sobre virar PM — mas é sobre garantir que a execução técnica tenha direção e ritmo.
Saber planejar inclui entender a capacidade do time, negociar prazos com produto, prever gargalos e estruturar como as coisas serão feitas — e não só o quê.
Além disso, é papel do Tech Lead acompanhar esse plano no dia a dia, saber ajustar a rota quando necessário e manter o time alinhado com o que está por vir. Sem esse planejamento, tudo vira urgência e caos.
E sem clareza, até a melhor arquitetura falha na entrega.
5. Dominar arquitetura e sustentação para justificar decisões técnicas
Não basta entregar — é preciso garantir que o que foi entregue se sustente, evolua e não vire um problema a cada release.
O Tech Lead precisa ter repertório técnico pra tomar boas decisões arquiteturais. Isso significa entender padrões, tradeoffs, escalabilidade, observabilidade, resiliência, SRE, custos e manutenção a longo prazo. Decisão boa não é a mais bonita no diagrama — é a que resolve bem, com o menor impacto possível, e com responsabilidade.
E sim, o Tech Lead também participa do pós-deploy. Quando dá problema em produção, ele não foge. Está ali pra ajudar no RCA, entender os pontos frágeis e liderar a evolução da stack.
No fim, arquitetura não é sobre escolher “o melhor pattern”. É sobre saber qual faz sentido pro contexto atual, com o time que você tem, com o tempo que você tem — e estar pronto pra adaptar conforme tudo muda.
Conclusão
No fim das contas, ser Tech Lead é ser esse ponto de equilíbrio entre o técnico, o estratégico e o humano. Não é sobre ser o melhor dev do time — é sobre garantir que o time entregue com qualidade, propósito e consistência.
Pra quem já me acompanha no YouTube, na newsletter ou já é meu aluno, sabe que eu bato muito nessa tecla: as habilidades interpessoais e estratégicas nunca foram tão importantes quanto agora. Estamos cada vez mais próximos da ponta da pirâmide — enquanto tarefas repetitivas e braçais estão sendo automatizadas. Já tem robô fazendo boa parte do que a gente fazia até pouco tempo atrás… e a pergunta que fica é: se a gente não se adaptar, o que será de nós nos próximos anos?
Essa transição é grande. E é por isso que, no CaD, um dos domínios é exatamente sobre estratégia, liderança e planejamento — porque são essas habilidades que vão garantir relevância e impacto no longo prazo. Precisamos ser reconhecidos além do tecnico!
Se você quer se aprofundar nesse caminho, entender como isso se conecta com arquitetura moderna, evolução de carreira e decisões reais do dia a dia, te convido a assistir o vídeo onde explico mais sobre a Comunidade de Arquitetura Descomplicada (CaD) e também a fazer parte da comunidade.
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