Quantas vezes você — ou “um amigo”, caso não queira assumir a responsabilidade 😅 — já mexeu em um módulo de um monólito, ou até mesmo de um microsserviço (sim, tem muito microsserviço por aí que mal consegue funcionar sem se comunicar com outros)… e do nada começaram a aparecer alguns erros em distintos lugares? Sim, sim… mesmo sendo só uma alteração simples. 👀
Pois é. Isso é o tal do alto acoplamento (ou Tight Coupling). E ele tá mais presente do que você imagina — principalmente em sistemas legados, APIs diretas e integrações improvisadas que foram ficando “pra depois”, também conhecido como “procrastinação”… digo, “debito técnico”
Hoje vamos falar sobre Tight vs Loose Coupling (alto vs baixo acoplamento), porque essa diferença define não só o quanto sua aplicação vai escalar… mas também o quanto você vai sofrer pra mantê-la no futuro, isso se já não estiverem sofrendo no presente. 😅
O que é Acoplamento / Coupling?
Coupling é o grau de dependência entre duas partes do seu sistema.
Em termos simples:
- Tight Coupling (alto acoplamento): Tudo está ligado diretamente. Se uma parte muda, as outras sentem.
- Loose Coupling (baixo acoplamento): As partes são mais independentes. Mudou uma? A outra segue firme.
Tight Coupling vs Loose Coupling
Imagina que você tem quatro microsserviços — B, C, D e E — que consomem diretamente a mesma API de outro sistema (chamado A).
Cada um desses serviços implementa seu próprio client HTTP com validações, formatações e autenticações manualmente. Bom, até então ok, tudo funciona e a vida segue… até que o time do sistema A faz um novo deploy, mudaram o payload, o header, ou formato da resposta…
Resultado?
Você agora tem que editar quatro implementações de Client HTTP em serviços diferentes(B, C, D e E), todos em pontos distintos do código, cada um com seu jeito e lib. Você não tem um ponto único de controle. Isso é tight coupling na prática.
Agora imagina que, ao invés disso, você tivesse criado um adapter interno centralizado (um único contrato local que fala com o sistema A). Nesse caso, mudar o comportamento pra outra versão exigiria só uma alteração e o resto seguiria igual. Isso é loose coupling — e salva projetos, sprints e sua sanidade mental. 😅
A imagem retirada do Imagem do site https://en.wikipedia.org/wiki/Coupling_(computer_programming) demonstra exatamente o que acabei de falar:

Como criar um sistema desacoplado?
Algumas das estratégias que funcionam muito bem na prática são:
✅ Ports and Adapters (Arquitetura Hexagonal): cria um núcleo de negócio isolado das interfaces externas. Isso
✅ Adapter + Anticorruption Layer: coloca um intermediário entre sua aplicação e um sistema legado ou externo.
✅ Event-Driven Architecture: serviços se comunicam por eventos, sem depender da resposta um do outro.
✅ Fila ou Bus de Mensagens: o produtor envia a mensagem e não precisa saber se o consumidor está online, dormindo ou em pane.
✅ Reavaliar os domínios das aplicações: se necessário, muitos casos exigem uma rearquitetura completa, um bom momento é considerar práticas como Domain Driven Design para garantir que você esta criando aplicações baseadas em domínios e evitando dependências que não fazem sentido para o negócio.
Devo sempre desacoplar minhas aplicações?
Como sempre falo no CaD, arquitetura é feita de trade-offs.
Loose Coupling traz grandes benefícios:
- Facilita manutenção e testes
- Permite escalar partes do sistema de forma independente
- Dá mais resiliência e tolerância a falhas
- Torna refatorações e migrações muito mais seguras
- …
Mas, sim: tem um custo.
Você vai adicionar uma camada a mais (às vezes de código, outras de infraestrutura), e precisa de disciplina de time pra manter os contratos limpos e bem definidos.
Conclusão
Acoplamento é algo muito visível quando se trabalha em projetos de modernização, migração e refactor de arquiteturas. São coisas que fazem com que uma atividade de duas semanas vire dois meses facilmente devido o número de dependências envolvidas.
Agora imagina quando falamos de aplicações que rodam em Mainframe ou até mesmo alguns monolitos?Eu já trabalhei em alguns projetos de modernização de workloads que estavam em mainframe, e devido ao nível de acoplamento entre diferentes programas e transações, uma simples strangler fig de um pedaço do código levava meses…
Foram alguns dias pra parte técnica — e semanas só pra alinhar com todos os envolvidos😭 . E como falei antes: algo que deveria ser alterado em um único lugar, acabava exigindo mudanças em MUITOS outros. Uma cadeia de impacto absurda.
Então, pessoal… não joguem a sujeira pra debaixo do tapete. Cuidado com a priorização do curto prazo — porque criar acoplamento hoje é o que vai te travar lá na frente, justamente quando você mais precisar de agilidade. Acoplamento afeta diretamente a capacidade dos sistemas de entregar valor com velocidade e segurança. É o tipo de dívida que cobra juros bem alto.
E se você quer aprender mais sobre padrões de arquitetura que fazem bastante diferença no mercado, vem pra Comunidade de Arquitetura Descomplicada (CaD). Aqui a gente discute não só acoplamento, mas também resiliência, escalabilidade, testes, arquitetura de eventos, deploy seguro, e tudo que faz parte da vida real de quem projeta sistemas modernos.
Abraços,
Douglas Mugnos
MUGNOS-IT 🚀